Jerre Aventura no Chuí / RS - Viagem ao extremo do Brasil repleta de belezas e amigos.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Estrada. E desta vez rumo ao Chuí/RS, fronteira de dois países: Brasil e Uruguai. Avenida Internacional, onde estão os famosos free shops, que atraem brasileiros e turistas em viagem a Punta del Este, Montevidéu ou Buenos Aires.
Mas vamos ver que mais a fronteira oferece. Para isso resolvi a rodar alguns dias ali pela região. Sai de casa dia, 22 de fevereiro, sábado, com intenção de ficar sábado e domingo em Pelotas, pois meus filhos estão lá, e também poder curtir a Praia do Laranjal.
Mas já segunda peguei a estrada para a fronteira. Como o Chuí/RS está em torno de 530 km de Porto Alegre/RS, Pelotas fica praticamente no meio do percurso, apenas uns 260 km a fazer.
Nesta parte do trajeto após a Vila da Quinta – não esqueça de abastecer aqui, postos de gasolina só serão encontrados próximo a Santa Vitória do Palmar/RS, em torno de 200 km – é onde estão as longas retas, onde se passa pela Reserva Ecológica do Taim. Para os apressados, boa viagem! E para os que não se importam de paradas na estrada, aquele silêncio, butiás e araçás, há ao longo do percurso muitos pés.
Chuí/RS
É o município brasileiro mais meridional do sul do Brasil e faz fronteira com o Uruguai. Cidade pequena, em torno de 6000 habitantes, população constituída por brasileiros, uruguaios e árabes palestinos, estes últimos muito ligados ao comércio. A economia baseia-se principalmente no comércio de fronteira, venda de produtos alimentícios e de vestuário aos uruguaios nos supermercados e lojas. Brasileiros fazem a festa nos free shops. Lá, hospedei-me no Bertelli Chuí Hotel, e a partir dali comecei as visitações.
Forte de São Miguel
Na tarde mesmo de segunda feira (22/02) já rumei para o forte. Ele fica à direita em torno de 8 km seguindo pela Avenida Internacional, lado uruguaio. Rápido e fácil acesso.
O Forte de São Miguel foi construído pelos portugueses, em 1737, a mando do Brigadeiro José da Silva Paes, e uma curiosidade: ele foi o fundador da cidade de Rio Grande de São Pedro, uma das primeiras cidades do Rio Grande do Sul, hoje Rio Grande. Este forte ficou abandonado até ser declarado Monumento Nacional em 1937, após essa data foi se intensificando a recuperação do patrimônio. Hoje está muito bem conservado. Os custos das visitas destes monumentos são baixos, entre R$ 2,00 a 2,50.
Fortaleza de Santa Tereza
A terça-feira (23/02) começou tarde (8hs), após aquele café, rumo Uruguai.
A Fortaleza esta no lado uruguaio, pouco mais de 40 km da cidade.
Já na estrada uma curiosidade: existe uma pista de avião para aterrisagens de emergência ou comitivas, exemplificando do governo Uruguaio ou Exército Uruguaio.
A Fortaleza de Santa Tereza está dentro do Parque Nacional de Santa Tereza, outro local interessante, inclusive vou comentar mais a frente.
Maior que o Forte de São Miguel, data de 1762 o inicio da construção.
O passeio pelo seu interior é muito interessante. Custos de acesso R$ 2,50.
Casa do Comandante, Capela, Quartel dos Oficiais, Casa da Pólvora, Quartel da Tropa, cozinha e depósitos fazem parte do roteiro interno.
Punta Del Diablo
Meu próximo objetivo foi a pequena vila de pescadores uruguaios com em torno de 650 habitantes que está localizada em seguida ao Parque Nacional de Santa Tereza.
Predominância de pescadores e artesãos na vila, mas no verão o cenário se transforma com os turistas argentinos e brasileiros, que são figuras fáceis por ali.
Gosto muito de lá, aqueles barcos na areia... Parei até para experimentar uma graspa de mel, mas não desceu legal...
Como eu queria um limite de até 50/60km do Chuí/RS, comecei o retorno.
Parque Nacional de Santa Tereza
Entrei no parque no retorno, onde já na recepção o visitante recebe o mapa e te perguntam se é apenas visita ou acampamento. É que o parque, além das varias praias, há uma ótima infraestrutura incluindo camping, restaurante e parrillada.
Alguns locais para quem gosta de plantas são o Sombráculo (jardim de verão) e o Invernáculo (jardim de inverno com coleções de bromélias, orquídeas, etc.).
Fiquei um belo tempo pelo parque, mas queria entrar em La Coronilla.
La Coronilla
La Coronilla é uma cidadezinha com um perfil de pessoas mais maduras, um local calmo, com pouquíssimos habitantes, uma praia com poucos turistas. E foi ali também que encontrei o Projeto Karumbé.
Uma Organização Não Governamental que faz um trabalho a 11 anos voltado a pesquisa e conservação da tartaruga marinha. Existe uma relação de respeito entre a Karumbé e as comunidades de pescadores, bem como atividades focadas na parte educativa, para gerar uma mudança de atitude de crianças, jovens, pescadores e turistas, não só na conservação das tartarugas marinhas, mas em relação à natureza.
Encontrei por lá uma turma formada por voluntários e pesquisadores como o Gustavo, que atua como oceanólogo. Para vocês terem idéia, estavam envolvidos no projeto cidadãos da Itália, França, Espanha, Chile, República Tcheca e Estados Unidos.
Playa de Barra de Chuy/UY
Mas o fim da tarde estava chegando, então dei continuidade ao passeio seguindo para a Barra pelo lado uruguaio, que tem característica tranqüila, como todas as praias destes 50 km que tinha feito de orla marítima.
Praia da Barra do Chuí/BR
Cheguei ao Arroio Chuí, uma pequena aduana bem na ponte, e do outro lado Brasil, para já em seguida encontrar o museu-ateliêr de Hamilton Coelho.
Encontrei-o tranqüilo, nos jardins da casa. Malena, sua esposa – ou namorada, eu não quis perguntar – já trouxe um chimarrão, e isso para um gaúcho é um bom sinal.
Malena me mostrou as obras de Hamilton em seu ateliê. Enquanto eu fazia algumas fotos, ela me comentava sobre o trabalho desenvolvido por ele. Demonstrava paixão.
Enquanto em conversa com o Hamilton, foi que surgiu como ele gosta que comente: “O Brasil começa aqui”.
Hamilton Coelho, um escultor que tem como identidade de suas obras a preservação do planeta, que mora nas margens do Arroio Chuí/RS, do outro lado, Uruguai.
Mas por que morar aqui?? Pois além de pacífico, a matéria-prima para suas obras que são basicamente ossos de baleia, pedaços de mandíbulas, crânios, vértebras, restos de naufrágios e tudo mais que o mar trouxer estão lá, bem no quintal da casa.
Farol da Barra do Chuí
É o farol mais avançado do Brasil com iluminação automática e Rádio-Farol, seu alcance é de 30 milhas e consegui entrar já na boa vontade do pessoal, pois já estava encerrando o horário de visitas. Como era fim de tarde, muito vento, mas se avista bem o final do Arroio Chuí desembocando no mar e a divisa dos dois países.
Notaram que não comentei sobre o almoço??? Aquela graspa de mel, realmente não desceu legal, então nem almocei.
À noite resolvi ir para a Avenida Internacional, no lado uruguaio, para resolver este problema gastronômico.
Fui jantar no Il Forte, pizzaria do Damian e da Paula, ele por sinal, apaixonado por quadriciclos, e proprietário de um.
E nada que uma pizza 6 queijos dividida com a Il Forte, não me resolva o problema gastronômico e pomelo para acompanhar. Pomelo é uma fruta cítrica que é usada para fazer o famoso refrigerante Paso de los Toros, da Pepsi. O nome da marca é originário do Uruguai. Tem gosto diferente, sabor semelhante ao nosso Schweppers Citrus, vale experimentar.
Após uma noite de descanso merecido, um belo café da manhã, e assim tirei a quarta feira (24/02) para visitar alguns free shops.
O hotel merece alguns comentários:
O Bertelli Chuí Hotel Fica na Br 471, que desemboca direto na Aduana. Os apartamentos são todos equipados com ar-condicionado, frigobar, televisão, telefone, banho com aquecimento central e internet Wi-fi. Ambiente com lareira, já pensando no frio que vem aí fazem parte.
Para a turma que quer passar o dia no hotel: sala de jogos, playground, campo de futebol, cancha de bocha, quadra de padle, quadra de vôlei, piscina aberta, sauna, fitness, cyber gratuito, cozinha auto service e piscina térmica. Em algumas das noites jantei no restaurante do hotel, chivitos é claro.
Quinta feira (25/02) decidi retornar, e onde me aconteceu algo que não me é normal: durante uma parada na Reserva Ecológica do Taim, para algumas fotos e aproveitar os araçás na beira da estrada, rebentou a corrente da motocicleta. Arranquei com calma e uns 5 mts após, ouvi o estouro dela. Rebentou bem no elo. Bom, e agora? Para um lado, 100 km até Santa Vitória do Palmar/RS e para outro não muito diferente.
Mas existia pouco a frente, uma casa e uma fazenda. Foi lá que conheci o João, capataz de fazenda, gente boa. Em uma conversa rápida resolvemos levar a moto para o galpão de oficina das ceifadeiras e tratores, para o ver o que se fazia. Resumindo tiramos o pino ao lado da corrente emendamos novamente. Após uma hora, to na estrada novamente.
Olho pelo retrovisor e vem uma big trail, e emparelha ao meu lado. Uma BMW GS 1200 Adventure, vindo de Ushuaia, com gasolina para mais 80 km, e ele estava na duvida se dava para chegar a Vila da Quinta/RS, onde teria posto de combustível. Como estávamos a 60 km do mesmo, tranqüilo.
Passei o fim de semana em Pelotas/RS.
Foi lá que sexta (26/02) a noite, no Posto do Guga, na Avenida Bento Gonçalves, onde o pessoal se encontra para um bate papo que encontrei o Antonio Rodrigues, mexicano.
Vocês são daqueles que acham que só vão começar a rodar quando se aposentar ou adquirir uma motocicleta de cilindrada maior??
Antonio Rodrigues (México) saiu do Alaska dia 6 de outubro de 2008 em uma Scooter Honda Elite 125, passou pelos Estados Unidos, Canadá, Guatemala, Honduras, Panamá, Colômbia, Venezuela, Chile, Argentina, Uruguai e subindo pelo Brasil. E não listei aqui todos os paises que ele passou. Agora sobe o Brasil, costeando, Guianas, depois sul da África, terminando na Europa. O motivo desta viagem? Um sonho de um dia fazê-la sendo colocada em prática.
Domingo à tardinha fui para Rio Grande/RS. Segunda feira (29/02), cedo já estava aguardando a balsa para a Travessia do canal de ligação de Rio Grande e São José do Norte/RS.
Desta vez engatei de conversa com o Carlos, cidadão de Rio Grande que mora agora em Florianópolis/SC. Acabamos fazendo a amizade.
O que rendeu convite dele para colocarmos a moto na carroceria da Chevrolet Montana e ir conversando até Capivari do Sul/RS, que seria onde nós nos separaríamos. Cada um para seu destino.
Fiz questão de colocar detalhado este fim de viagem por alguns motivos:
1º. Como são importantes as amizades, cultivar amigos.
2º. Que muitas vezes não adianta dinheiro no bolso
3º. Como é importante revisar seus equipamentos para pegar a estrada
4º. E nunca desista de seus sonhos
Boas estradas e até a próxima.
O Autor: Jerre Rocha é colunista da RevistaExtreme.com desde 2009 e é motociclista a mais de 20 anos. É o diretor da Jerre Rocha Mototurismo que desenvolve passeios para motociclistas com toda a estrutura e segurança. Clique aqui para conhecer algumas de suas aventuras de moto.
1 comentários:
Oi Jerre, gostei de suas aventuras, gostei dos detalhes pertinentes que usas ao escrever sobre seus feitos e aventuras.
Nosso sonho, meu, de meu esposo e filhão é fazer uma viagem saindo de Joinville-SC até Chui-RS e depois adentrar o Uruguai, mas não muito longe, semelhante ao que você descreve!
Gostaria de sua opinião e quem sabe mais algum detalhe sobre a viagem...aguardo!
Concordo com a frase de Goethe “Seja qual for o seu sonho – comece. Ousadia tem genialidade, poder e magia.”
Abraços
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