Animais na pista, susto ou até mesmo um sério acidente.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Vinha o trilheiro no estradão, "enrolando o cabo", quando um passarinho passou na frente. Pimba! Acertou o bichinho com o capacete.
O passarinho ficou caído e o trilheiro, amante dos animais, o levou pra casa. Colocou-o numa gaiola, pôs água e alpiste e voltou para a trilha.
O passarinho acordou, olhou em volta, viu a gaiola, água e comida: - Caraca!!!!! Fui em cana!!!! Acho que matei o trilheiro...
Meu coração quase parou. Estava no Enduro dos Vinhedos e de repente, saltou uma onça a uns 15 metros a minha frente. Por sorte, ela também levou um susto e sumiu morro abaixo". A declaração de Sandro Hoffman, tricampeão brasileiro de enduro, parece até história de pescador. Entretanto, nas trilhas não faltam casos de gente que passou sufoco, quando ficou cara a cara com um animal. A maioria dos casos acaba como piada, mas é bom ficar atento: em algumas histórias, o encontro terminou em acidente.
"Matar e não comer é pecado", pensa Eduardo Aurora, organizador do Enduro do Descobrimento na Bahia, quando o assunto é galinha. "Elas parecem correr pra baixo da roda". Porém matar uma galinha na trilha, sempre é um problema, pois o bichinho pode representar muito para seu dono (veja box).
Enquanto a galinha é frágil e acaba virando almoço, outros animais, como jegue e burro, podem representar perigo. Lá pelo Sul da Bahia, a estratégia de Aurora e sua turma de trilheiros é passar por trás do bicho. "Se passar pela frente, o burro dá um passo, e o acidente é certo" diz.
E a vaca maluca?
Vaca solta é outra encrenca. Se correr, o bicho pega... Se ficar, parece que a vaca também pega. Sandro Hoffmann aconselha desligar a moto. "A vaca só cria coragem de atacar porque passa um piloto correndo, depois outro e aí ela vai atrás... Eu paro, desligo o motor e fico atrás da moto. A vaca perde a coragem". Depois é só espantá-la jogando umas pedras perto dela, sem acertar o animal. Afinal, o intruso é você, ensina o capixaba.
Aliás, desligar a moto ao chegar próximo a uma boiada é o que também faz Aurora. "São bois mansos e se afastam apenas com o típico som dos boiadeiros. Basta um 'muuuuuu' ou 'êêêê...boi' que eles vão embora".
Mas cuidado, porque se o gado for Nelore, pode não ser tão fácil. É o que conta o trilheiro mato-grossense Marcelo Gomes. "O Nelore é conhecido por sua pouca paciência com estranhos". Imagine quando eles vêem um trilheiro cheio de equipamentos e com uma moto dois tempos barulhenta? Segundo ele, o Nelore parte pra cima mesmo.
Porém, por mais inofensiva que possa ser, encontrar uma boiada de frente em uma estradinha - quando você está com o "cabo enrolado" - pode ser um belo susto. Ou pior, um acidente como aconteceu com Juca Bala no Rali Paris-Dakar (leia box). É bom se informar com os moradores se nos locais por onde vai passar há animais soltos.
E a cobra?
Algumas vezes, os animais podem ser perigosos mesmo quando você está parado. É o que conta o trilheiro carioca, colaborador de DUAS RODAS, Adriano Winckler. Ele e seus colegas foram para a trilha no domingão. Ao enfrentar uma subida íngreme, cheia de buracos, um deles, o Ilk Araújo, que tem o singelo apelido de Zé Bolinha - já dá para imaginar o físico do rapaz ! - dosou mal o acelerador da sua Yamaha DT 200 e a "bichinha" levantou a frente. Resultado: Zé Bolinha e a DT rolaram morro abaixo.
Pararam só no pé do morro, onde, por azar, havia uma grande cobra, que o Zé não viu. Seus amigos tentaram avisá-lo, mas ele não ouvia. Por pouco o Zé Bolinha não virou almoço do réptil. Mas ao ligar a moto a cobra se assustou e o Zé Bolinha venceu o morro.
Tudo quanto é bicho
Em alguns locais de nosso País, onde a flora está bem conservada, há casos de bichos estranhos assustando trilheiros. No Mato Grosso, Marcelo Gomes diz que é comum emas perseguirem os trilheiros, ou um bando de quatis caírem das árvores quando as motos passam por perto. "Aqui é quase como fazer um safari! Bom demais!" brinca ele.
Outro animal que convive mal com os trilheiros são os lagartos. "Na praia de Guarapari (ES), perto de Vitória, onde costumo treinar, há muitos lagartos nas trilhas" conta Sandro Hoffmann.
Apesar de inofensivo, um lagarto pode derrubar o trilheiro, como conta nosso colaborador Fernando Amaral, de Mogi das Cruzes (SP). "Aqui na região tem lagarto de tudo quanto é jeito: preto, verde, grande, médio..."
Em um domingo, depois de fazer a manutenção em sua moto, Fernando saiu para testá-la. "Fui só dar uma volta, sem muito equipamento. Mas sabe como é trilheiro, não resisti e peguei uma trilha fácil. Quase chegando em casa, apareceu o bichão no meio de uma estrada asfaltada".
O lagarto estava meio perdido, sem saber para onde ir. Com receio de atropelar o animal, Fernando começou a frear. "Não é que o bicho parou na minha frente e inchou, dobrou de tamanho. Foi como encontrar um cupinzeiro no mato. Chão na certa". Resultado do infeliz encontro com o lagarto: calça, camisa e luvas rasgadas, e a "compra de um terreno", como os trilheiros chamam um bom tombo.
Outra ameaça está nas aranhas. Em trilhas fechadas, com mato alto, os tais aracnídeos gostam de saltar de um lado a outro, conta Fernando. "O motociclista "abre-trilhas" acaba virando um dedetizador. Uma vez, uma aranha entrou no meu capacete num lugar onde não dava para parar. Foram minutos de diversão para quem vinha atrás. Até eu parar, tirar o capacete e dar tapas na minha própria cabeça" conta Fernando. Por sorte, não era venenosa. Mas, é bom ficar esperto, já que o bicho está na casa dele. Quem chegou sem convite foi o trilheiro.
Fonte: Revista Duas Rodas
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